Há muito contra nós, toda utopia ajuda

As utopias seriam irrealizáveis – o futuro que anunciam nunca seria capaz de se efetivar. Eis o senso comum. Já para o artista visual e curador Srijon Chowdhury, as utopias agem mesmo não-realizadas, pressionando o presente.

“Utopias são vislumbres de outros mundos”, afirmou ele à Úrsula, “[elas] podem nos inspirar a trabalhar para que se concretizem — são uma chance de revolução por meio da reforma”. A anunciação utópica têm, assim, em primeiro lugar a capacidade de inspirar. E aquilo que inspiram não é só a dissensão, mas um trabalho, os esforços para que algo torne-se real. A utopia, assim, deve mobilizar a práxis.

imagem: Sjoerd Los

Chowdhury disse isso no contexto da exposição Utopian Visions (2018) – em português, “visões utópicas” –, na qual ele reuniu artistas que especulavam futuros possíveis: “A arte é um excelente espaço para que novas ideias sejam tentadas, é um espaço de esperança e crença”. Essa última palavra não se reduz à mera concepção ou adesão mental, tem o poder de determinar realidades: “Nosso mundo é baseado em crenças que produzem consequências bastante reais, a crença é o primeiro passo, a disseminação é o segundo”.

Tudo se passa como se as utopias fossem uma forma de crença e, sendo constituídas e disseminadas – mais uma vez há a necessidade de um trabalho –, podem terminar por causar efeitos. Nesse sentido, todas – ou quase todas, pois ele nota que o fascismo é também uma utopia – as utopias em que podemos nos apoiar são algo benéficas: “Nossa época parece apocalíptica, e há muita coisa operando contra nós – todo pequeno passo na direção oposta ajuda. Ter mais pessoas inspiradas e engajadas em trabalhar tendo em vista algo melhor ajuda”.

Que pequenos passos na direção contrária ao apocalipse podemos criar?

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