Posturas é uma série que dispõe – por meio de personagens literários – comportamentos, modos de se colocar diante da vida e de lidar com as situações e com os outros. Com isso, Farol convida ao debate: comente, posicione-se em relação ao exemplar da vez. Coletaremos em torno dessas figuras concordâncias e discordâncias.
Ou somos ativos e inteligentes, ou somos ociosos e supersticiosos – assim pensa Nikolai Andréievitch Bolkónski, personagem de Guerra e Paz, de Liev Tolstói. Às páginas 110 e 111, o encontramos descrito assim:
Dizia que só existem duas fontes para os vícios humanos: ociosidade e superstição; e que só existem duas virtudes: atividade e inteligência. Ele mesmo vivia constantemente ocupado, ora com a redação de suas memórias, ora com cálculos de matemática avançada, ora com o torneamento de caixas de rapé num torno mecânico, ora com o trabalho no jardim e com a observação das construções, que nunca paravam na sua propriedade. Como a condição principal para a atividade é a ordem, no seu regime de vida a ordem era levada ao grau máximo de exatidão. Sua presença à mesa obedecia sempre às mesmas regras imutáveis, não só na mesma hora, como até nos mesmos exatos minutos. Com as pessoas à sua volta, desde a filha até os criados, o príncipe era ríspido e exigente de um modo inflexível, e por isso, sem ser brutal, despertava um medo e um respeito que nem a pessoa mais cruel conseguiria conquistar com facilidade. Apesar de estar aposentado e de não ter mais nenhuma influência nos assuntos de Estado, todos os dirigentes da província onde ficava a propriedade do príncipe consideravam um dever visitá-lo e, a exemplo do arquiteto, do jardineiro, ou da princesa Mária, aguardavam o horário marcado para a vinda do príncipe à sua imponente sala de trabalho. E naquela sala todos experimentavam o mesmo sentimento de respeito e até de medo, no momento em que se abria a enorme e imponente porta do gabinete e se revelava a figurinha baixa de um velho, de peruca empoada, mãozinhas miúdas e secas, e sobrancelhas grisalhas e pendentes, que às vezes, quando ele as franzia, encobriam o brilho dos olhos, inteligentes e cintilantes como os de um jovem.
Como você vê essa postura? Concorda com essa escala de valores – ociosidade contra atividade, superstição contra inteligência? Aceitando os mesmos preceitos, seguiria a mesma rotina de Bolkóski? Não? – mas como justificaria não segui-la, se, para o personagem, essas práticas são decorrentes dos princípios? Os valores que ele defende podem se ligar a outro comportamento, sem se transformar?
Para além do texto: você já agiu de forma semelhante ao personagem? Ou conhece quem aja? Conte.